sexta-feira, 15 de abril de 2011

"Sobre Morrer"

Queridas e queridos... Desde o primeiro texto procuro deixar claro que quero dividir experiências minhas com vocês. E em definitivo, a maior experiência pela qual eu passei foi a perda de minha irmã, tão jovem. A partir deste post, irei entrar nesse mérito, ainda que tente não me deter 100% nele. Este é um post introdutório, então vamos lá!


Sobre Morrer

E então, a realidade me acorda. Não me recordo se algum dia cogitei morrer, mas definitivamente o fim ainda não era uma opção. Foi de noite que aprendi que morrer, no entanto, não é opção nossa. É “sim” ou “sim”, simples assim.
Recebo a ligação de que ela havia sofrido uma parada cardíaca. O sono e a impossibilidade sobre minha vista fizeram com que entrasse num carro e seguisse durante mais de uma hora até chegar naquele hospital cansado, de madrugada. É foi ele quem me recebeu, meu pai, dizendo que o céu chegou pra ela... E o inferno, na forma de um espírito seco e de pessoas flageladas por todos os lados, esse inferno chegou para mim. Isso é pessoal... Nos espaços que adentramos, cada um sabe de si.

É por isso que representam o inferno como puro fogo, pares de chamas, labaredas macabras. Porque nele não existe água. Água da vida, talvez... Antes de tudo, porém, era água que faltava. E assim estavam minha saliva, meus olhos, minha urina avermelhada... De mim, faltava e não saía água.

Mas e o corpo da minha irmã... Não sentia mais ela lá. Engraçado o que C.S. Lewis disse, mais ou menos isso: “somos uma alma dotada de um corpo, não um corpo dotado de alma”. Isto me fazia total sentido, porque ela não estava mais lá. Se não existir de fato um elemento eterno dentro de nós, que por mais eterno que seja acaba por se desfazer como éter no ar, ela não existia mais. Aquele corpo indolor era estranho... E não conseguia entender ainda toda a necessidade de sepultá-lo e cerimoniá-lo. Mas minha ignorância, em relação aos necessitados, não permaneceu. Eles precisavam disso... Assim, precisei eu.
E depois de tudo, passou-se uma semana sem música. Depois de assinar documentos, acordar e dormir num tormento, esquecer de meu tempo, foi-se uma semana sem vontade de ouvir qualquer canção. Acho que a primeira coisa que consegui pôr no som foi Sleeps With Butterflies, para forjar minha vontade de ser gente. Aos poucos, voltei a escutar. E as palavras que precisavam nascer, mesmo que desordenadas, as palavras voltaram a nascer.
E o tempo mostrou-me que precisavam de um pai para lhes orientar, lhes polir. Então eu fui. Nas palavras eu fui mãe e pai de mim. Meus pais eram só deles agora... Tive de ser de mim.
Foi dessa forma que vivi.
E de algum modo, prossigo vivendo assim.
Pois eu sobrevivi.
À morte de toda uma sorte, eu sobrevivi.
E morri.

Também, eu morri.

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