quarta-feira, 29 de junho de 2011

"Dirceu"

Na época do colégio, por indicação da minha professora meio doida de literatura, tivemos de ler Marília de Dirceu, de Tomás Antônio Gonzaga. Para quem não lembra do livro, é a história de uma casal de pastores que vivem um romance cândido e bucólico, mas que por razões externas se veem separados e entristecidos.
Quando comecei a escrever esse texto, Dirceu nem tinha relação com a minha história (esta é menos dramática, rs), mas ao usar a palavra pastor, o personagem me ensinou que ele estava envolvido nisso tudo.
De alguma forma, Marília há de voltar. Por enquanto o que pode o amante fazer?

Pastorear e sonhar.


Dirceu

O som do vento soprado,
E da chuva sobre a janela,
Faz com que queira parar

Paro com o intuito de nada,
Como se fosse madrugada
Desperto por esperar

Agora que foste embora,
Mesmo sabendo que voltas,
Tenho um coração sem descanso

Vive de canto em canto,
Buscando mais vida em vida,
Pastoreando rebanhos

Pois quando estou a teu lado
Sou alegre e cuidador,
Sou pastor de ternas palavras

E quando for teu retorno,
Será meu alívio e consolo,
Terei de volta minha casa

Sim,
Ela só existe sendo a tua morada
Essa é nossa casa

Essa é minha casa




"And all my armor's falling down..."

quinta-feira, 16 de junho de 2011

"Desperate Kingdom of Love", por PJ Harvey

Oh, amor, você foi uma criança doente...
E como o vento pôde lhe abater...
Ponha suas esporas, e se vanglorie
No Desesperado Reino do Amor

Água Benta agora não vai lhe ajudar...
Seus olhos misteriosos, também não
Vender sua razão não fará você adentrar
No Desesperado Reino do Amor

Há outro me olhando,
Por detrás de seus olhos
Aprendi com você a me esconder
Do Desesperado Reino do Amor

E chegando ao fim deste mundo ardente,
Você permanecerá orgulhoso e de cabeça erguida...
E eu lhe seguirei, seja no inferno, seja no céu
E me transformarei, como uma garota,

No Desesperado Reino do Amor



ps.: fiz a tradução tempos atrás pro facebook, e deu vontade de postar aqui :).

domingo, 12 de junho de 2011

Curta: "Eu não quero voltar sozinho"

Minha amiga Karoll Karoinha passou-me via twitter o link pra esse curta metragem, de Daniel Ribeiro (canal do youtube), "Eu não quero voltar sozinho". Ele conta a história de um adolescente cego, Léo, descobrindo o que é se apaixonar. É um material suave, visualmente e em conteúdo, e acho que cabe muito bem para o dia 12 de junho.

Lindo!



"Apaixonado de namorado"

Pequeno conto do dia dos namorados

Eu sempre gostei de escrever sobre o amor. Mesmo quando não havia tanta paixão em meu coração, sempre o amor foi um tema recorrente. Falava sobre começos, sobre fins, sobre um durante que poderia ser extremamente satisfatório ou infeliz... Acho que vivi o suficiente para conhecer um pouco das cores da tarde, do cinza ao azul, como cantam as irmãs meio abiloladas do CocoRosie. Das tardes em que passei com meus ditos amores, aqueles que até já se foram daqui.
Então, decidi postar três textos de uma só vez, contando uma historinha que vai do fim ao começo. Da constatação do fim até o esplendor do começo, que perdura com o sentimento. Isso porque acredito no amor. Tenho razões, e uma pessoa nesse mundo inteiro, que me fazem acreditar no amor.

O fim - “Onde Estará O Nosso Amor?”
O recomeço - Do cinza ao azul
O começo - Noite feliz


“Onde Estará O Nosso Amor?”


Você repousa suas mãos sobre meu corpo
Descansa das coisas que fizemos,
E diz que de manhã será um bom recomeço

Nas cartas escritas para mim não existem mais reticências
E vejo seus olhos vezes opacos, vezes brilhantes,
Enquanto recupero suas palavras com os meus, arredios

Você ensina ao mundo que da doença
Do tempo não se pode curar
E não demora mais no banho, me esperando chegar

Você tem medo de esperar
Tem medo dos caminhos para onde
Meus pés podem levar
O coração que não deseja ficar
O coração que não mais pensa,
Apenas os instiga a andar

Os caminhos onde seus pés não podem pisar
Aonde seus olhos não irão me chamar
A chama que, para você,
Não brilhará

O que eu perdi,
E fui procurar


Do cinza ao azul

E a história recomeça,
Com um grito de “olá”
E uma chuva,
Forte à beça

A história recomeça,
Por um susto que atesta
A fumaça tão dispersa
Sem fumaça,
Sem promessa

A história recomeça,
Quando eu sei que lhe
Interessa
Bem me tem
Se bem me quer
Só preciso que me
Peça

E a história recomeça
Sempre, sempre recomeça
O meu morto coração
Virou fênix,
Desperta

Por você
A você
Não por nada que
Impeça

A história,
Como nunca,
Recomeça


Noite feliz

Quero passar a teu lado
Por dias silenciosos
Dias em que não digas
Me amar,
Ou me querer,
Ou me aceitar

Dias que invalidem
Todas as coisas
Que queiras falar
Pois,
Neles,
Serão teus olhos a gritar,
Para depois,
Num relance,
Suavizar
E tua boca a me falar
Apenas quando me beijar

Neles,
Quero somente
Te amar
E te querer,
Te aceitar

No silêncio de tuas palavras,
Quero entender as sílabas
De teu olhar

As sílabas de teu
Mais puro
Olhar

xxx

E pontuando, só porque hoje é dia dos namorados e o meu merece: Rodrigo, estar com você é não ter sequer um segundo triste; é entender porque minha vida resiste... É saber que o amor existe. O amor existe.

Hernando

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Tori Amos, "For Mark", For Rodrigo

Esse post não é nem sobre o dia dos namorados mesmo, já que ele fala mais sobre uma data especificamente especial para mim e meu namorado.
E essa música não é sobre meu namorado, é sobre o Mark, marido da Tori, mas ela tem a essência do que eu quero dar a ele, e ser para ele.
Quero que nosso amor seja forte e indolor, como uma árvore deve ser.
Lembrando que dela, flores podem nascer. Florescer.

"As flores são tão belas quanto o amor
Mas elas não suportam o tormento
Sejamos como a árvore, indolor
Lutando e florescendo, em seu tempo"



"The Boy With The Blue Notions, Emotions..."

segunda-feira, 6 de junho de 2011

"A Cor Azul"

A vida é um livro inacabado, pelo simples fato de não termos tempo nem coração de a ela dar um ponto final.

A Cor Azul

Minha fome foi compensada
Pelo mar
E enquanto pisava
Em seu assoalho de areia,
Sentia meus pés caírem,
Trepidarem sem muito cuidado

Olhava para as nuvens
Procurando pelo
Avião,
O avião
Que lhe levara embora
Naquelas circunstâncias,
Porém,
Não era algo que
Doesse
Ou me lançasse
A uma incerteza
Desesperada...
Vi pipas planando
Sobre minha cabeça,
E percebi à medida
Que nos afastávamos
O quanto a distância
Era uma irrelevância

Sumiriam da minha vista,
Mas com o vento,
Continuariam
Sua dança

Decidi então abaixar os olhos
Para a retidão do horizonte,
Tentando mensurar
Com minha alma
Até onde o oceano
Poderia chegar
Ele definitivamente
Tinha um fim,
Tinha que se limitar!
Tinha que terminar...

“Mas não me cabia
Calcular”

Ocorreu o pensamento
Quando de longe o avião ia,
Em meu lugar
Prestes a sumir no horizonte,
Permaneci observando-o
Me deixar

“Mas não faz mal...
Ele chegará a algum lugar”

E de repente,
Eu pude parar
Irromper
Desta fatigada vigília
E,
Num mergulho
Profundo,
Parar

Além do que anunciavam seus sinos,
Ali era o meu mar
(Meu pai)
Meu mar



"I know you have a lot of strenght left"

quinta-feira, 2 de junho de 2011

"Planos e Paralelas"

Um dos meus versos prediletos de Tori Amos é "You Better Bring Your Own Sun". Traduzindo, porque quem acompanha o ToriBr sabe que eu adoro fazer isso, "É melhor trazer o seu próprio Sol", um verso simples e, ao mesmo tempo, extraordinário.

E por que decidi citar Tori antes de lhes apresentar o próximo texto? Não sei exatamente. Talvez trazer seu próprio sol seja só uma forma de firmar sua identidade. E nós, pessoas, sempre esperamos das outras a mais transparente verdade. Que ela seja nosso sol. E que eu traga meu sol.


Planos e paralelas

Quis tentar ao máximo
Compreender minha própria dor
Chamei-a de ódio,
De fúria, remorso, até
Amor
E assim fui angariando
Pedras que não têm valor...
Nem o suor que por causa delas
Gotejava,
Nada me tornara indolor

Então fui me achatando,
Raspando as arestas,
Tirando da testa
As marcas que eram de lá
Fui mergulhando no raso,
Satisfeito por poucos
Reparos,
Sofrendo uns poucos lapsos,
Aqui e acolá
Fui me tornando pedra,
Daquelas mais amarelas,
Inerte a suas vontades,
Inerte,
Em meu lugar
Assim deixando uma vida,
Como uma imagem partida,
Fala absenta de gíria
Numa foto envelhecida...

Algo tenho de fazer,
Para não me arredondar
Essa vida mediana
Está a me atropelar
Dei o carro da minha vida
Para outro o levar
Foi-se a hora de expulsá-lo,
E assim eu controlar
Tudo que não se controla...
Mas pelo menos tentar

Vou aguçar as arestas,
Meio quadrado ficar
E devolver à minha testa
O que o tempo quis
Me entregar
Não adianta ser frágil,
Quando eu quero alcançar
Atravessar a ponte,
Destruir o meu lar

Pois ele não é doce,
Não tente me enganar
Ele nem é agridoce,
Não vai me consolar
“Esqueça dessas coisas,
É hora de mudar”
Mudar eu sempre mudei...
Hora é de melhorar

Dar chance à minha vida
Construir o meu lar
Ser alguém a mim mesmo,
E depois do primeiro beijo,
Construir o nosso lar

Onde houver,
Haverá
(A beleza de existir)
Haverá



"Just enough for everyone"

sábado, 28 de maio de 2011

"Debaixo das ondas"

A ira é uma emoção que estraga seres humanos. Estraga relacionamentos, estraga sentimentos, desgasta até se dizer o velho "não dá mais". Não dá mais...

E uma das cantoras que melhor singulariza isso é Fiona Apple, taxada como "garota emburrada", quando ela talvez não passasse de uma menina frágil e emocionalmente abalada. E este texto diz muito a mim, e toma muito dela como referência, já que me visitou quando ouvia Sullen Girl, da própria Fiona.

Ele é sobre perder a calma. Perder a calma.


Debaixo das ondas

Eu não fui uma criança emburrada
Para não aceitar o amor
Que você jura me ter
Nem fui mal-educada,
Se for esta a questão
Que assusta sua pose cansada

Mas eu fui feito de raiva
Muita, mas muita raiva
E sua latência estranha exala
De mim
Nas mais singelas
Das gotas,
Das gotas derramadas...
Sigo criando maremotos,
Mesmo que sejam desprezíveis,
E assustem somente os pequenos
Que querem beber
Desta água

Forjei totalmente minha calma
Incutindo-a em minha alma...
Eu sei, mais uma rima barata
Eu sei, a alma não é calma
Pois ela rasteja de raiva...
Ela tem ódio
Quer sangue,
Agüenta-se
Em suas palavras
Eu sei, de novo as palavras
Eu sei, o tempo as apaga
Só elas, porém,
Me suportam
Só ela afagam
Esta raiva

Por elas,
Eu sei,
Ela passa
Mesmo que volte,
Uma hora, tudo dela passa
E esta certeza me faz
Aceitar o seu amor,
Se for isso que você me guarda
Eu aceito o seu amor
Eu não fui uma criança emburrada




"And there's too much going on... But it's calm under the waves, in the blue of my oblivion"

quinta-feira, 26 de maio de 2011

"Inconsciência"

Existe satisfação na dor? Pode existir... O prazer e a dor parecem-me extremos da mesma coisa, de nossos sentidos. E quando você perde um pouco de sua consciência, neste justo divisor de águas, talvez se confunda dor com prazer. Por isso, acho que por isso, este texto se chama "inconsciência". Sobre o que se descobre, quando em inconsciência.

Inconsciência

Gentilmente,
Sinto uma parte de você
Dentro de mim
E seu movimento me machuca,
Machuca-me com tanta doçura
Que, nisso,
Existe prazer
Você age como meu dono,
O dono a quem possuo,
E eu sou seu sujeito,
Seu desejo mais obtuso
É gentil a forma de me tratar,
E de me permitir chegar...
De ter receio em continuar,
Quando sabe que eu alcancei
O estado de não mais pensar

Onde é bom estar...
Não pensar

Talvez,
Nesse momento,
Você seja capaz de me captar...
Num rosto de olhos virados,
Sobrancelhas quase cerradas
E têmporas arroxeadas,
“Viole(n)tadas”,
O que escondo consegue fluir
Ao nada de sua consciência
Hedonista e encantada
Nesses segundos,
Você ocupa um espaço discreto
Onde não existem palavras
Mas não se confunda,
Por este não ser meu mistério
Ou segredo...
Meu lugar secreto
Sou eu mesmo

Só não tenha medo

(Não lhe quero mal)
Não tenha medo




"But the darkest pit in me is Pagan Poetry."

segunda-feira, 23 de maio de 2011

Sobre se esconder - "Alguém"

Olá, pessoal!

Hoje decidi postar um texto antigo, acho que de 2009, e que trata simplesmente de segredos. Acredito que qualquer um de nós encontra satisfações nas coisas que decide fazer, independente se elas nos farão bem ou não. E se esconder do mundo, até de si, é uma perda de tempo, ainda que, de alguma maneira, isso se torne viciante. É justo este vício que tento retratar em "Alguém". Alguém que se perde de si; torna-se apenas "alguém".

Alguém


Certas coisas jamais serão vistas
Não estarão prescritas em sua testa,
Como se fossem uma bula,
Capaz de alertar sobre
As curas e perigos
De sua natureza colateral...
Sim,
Minha criança,
É natural

Certas coisas exigem
Uma hipocondríase tremenda
Para serem notadas,
E delas tiramos
As lições mais sagradas
Deus quem as povoa,
Sem o cinismo
De fingir ser
Uma pessoa menos datada

Somos todos pessoas datadas

E eu acredito
Naquilo que é visto,
No que é perdido,
E em coisas que nunca
Se permitirão
Encontrar um caminho
Não importa se a culpa
É minha ou deles,
Mas todo o segredo
Tem um charme decisivo
Para mantê-los
Consigo

Por isso guardamos
Até omitimos
Segredos são intensos
Demais
Para não querê-los
Consigo

(Comigo)

Consigo

quinta-feira, 19 de maio de 2011

"O suave tecido dos lírios"

A capacidade de adentrar, ser penetrante, sempre me seduziu. E não sei se tomei isso para mim como uma vontade, ou se é de fato um traço de personalidade, mas de alguma forma sempre me senti nessa posição. Pode ser ilusão, eu posso simplesmente me manter dentro de mim mesmo quando estou dentro dos outros... Mas enfim, pensar assim me faz divagar sobre quem sou, quem quero ser, ou já quis.

O mais surreal da minha experiência foi ter percebido que minha condição penetrante soa completamente paradoxal. Porque eu acabo me adaptando às pessoas e circunstâncias, dou espaço para elas me dizerem o que souberem de si. Nessas horas, nem sei se me perdi. Mas é algo que ainda guardo aqui.

Penetração ou adaptação? Esse é um movimento sem fim?

"O suave tecido dos lírios"


É líquido

O que escorre,
É líquido
Assim vai a alma,
Volta a si,
Como o líquido mais vasto e contido
Como ser vasto e contido?
É líquido

Aos poucos,
Evapora
Etérea é a forma dos sonhos,
Por isso,
Evapora
Mas sonhos,
Vertidos em realidade,
Nunca são perfeitos
Acreditar que serão é decepção?
Algo me diz que pessoas vivem
Em seus sonhos
Porque só neles
São líquidos

É líquido
Não sólido

E me atenta
O líquido,
Ainda que seja
Sólido nosso coração
Por mais que quisesse
Em solo
Me transformar,
Ser líquido
Faz de meu desejo
Um impenetrável
Penetrar
E assim me quero
Assim me adoro
Como líquido,
Diamante,
Dou-me valor,
Acho-me glório

Então,
Beba-me,
Amor
Antes de ser um homem,
Seja maior,
O amor!
Por ser líquido
O que me pertence,
E a você
Eu pertencer...

De quem?
De quê?

(É líquido...)

Para quê?

domingo, 15 de maio de 2011

"Continuidade" - sobre nós, os cidadãos do mundo

Confunde-me um pouco pensar em como as várias realidades humanas congregam-se em torno de um mundo só. Somos tantos, e não só em número, mas nas diversas maneiras de se expressar e se buscar durante a vida. Dentro de uma cidade existem diferenças gritantes. Dentro de um bairro também... Até dentro de uma casa, dentro de um dito lar, as pessoas podem divergir em seus interesses a ponto de que a solução e torná-la duas. Dois em um... Um em dois. Normalmente, uma situação dura.
Confunde-me ainda mais pensar que o conflito é mais interior que exterior, e que às duras penas vou assumindo meus esforços em ser íntegro e justo, enquanto vejo pessoas que não dão importância a essas coisas, que digo. Digo que não dão importância porque o conflito é algo instintivo. Não se foge dele, apenas se esquece para depois ele voltar, incontido. Mas como nos fazer unidos? Como juntar partes e, mais importante, fazer com que elas se coordenem e se tornem úteis, dentro da cidade, dentro do bairro, dentro da casa ou somente de si?
Perceber que o mundo é contínuo em relação a nós mesmos, eu aposto nisso. Perceber que de nossos segredos eles podem não saber, mas no íntimo sentem, e quando você menos espera, vê que todos puderam também ver. Acreditar que a verdade é o melhor caminho, e começar a conhecer alguém pelo que você considera haver de similar entre vocês. Talvez se partíssemos do fato de que todos somos seres humanos, e como seres humanos apresentamos infinitas formas, mas conteúdo parecido, pudéssemos encontrar o que há de proximidade entre aqueles que estão conosco. Os que estão comigo. É boa a ideia de andar pelas ruas do mundo imaginando o quanto cada lugar tem um pouco de nossas virtudes e vícios. É justa a ideia de andar pelas ruas do mundo e reconhecer que, no mais íntimo de mim, há um pouco daquilo tudo que vejo, provo, ouço... Sinto. Antes de não entender uma língua, entender uma voz. Antes de destinar uma sina, surpreender-se quando o rio chega em sua foz. Antes de amar sua vida, amar a vida de nós. Pois nós somos nós. Antes de seu eu se afirmar como eu, você foi nós.
Mas não é uma solução o que falo, não quero que seja isso. A solução está em viver, e aprender algo com isso. Espero não estar errado, ainda que seja meu risco... Quero ser cidadão do mundo, entendê-lo como seu filho.

Continuidade

(Para os cidadãos do mundo)

E por mais diferente que seja
O aspecto onipresente,
O mundo de lá de fora é uma
Extensão
Do mundo da gente
Vejo em fotos,
Em olhos
No que me mostram,
Inconscientes...

O mundo de lá de fora é uma extensão do mundo da gente

sexta-feira, 13 de maio de 2011

O ceticismo

Uma dos sentimentos mais patentes a circundar um momento ruim é a descrença. Você se torna uma pessoa cansada, doente, incapaz de tirar motivação de nada, puramente nada. Descreditar a roda da vida, atribuindo estagnação a tudo, é outro sintoma de que as coisas estão ruins... Você acaba deixando-se de lado, e, como acredito já ter dito, o mundo trata de fazer as mudanças que se deveria controlar... Ou, pelo menos, tentar.

Estes dois textos tratam de forma sucinta de quando eu me vi desacreditado perante às circunstâncias. Não são textos exatamente tristes, são mais céticos, incapazes de encontrar em si próprios razão para continuar de pé. De qualquer forma, a morte é acompanhada do ceticismo, independente de que morte falamos, de que sorte estamos perdidos. É isso.


Papel branco


Enquanto os sinos tocavam
E a estrada andava
Sobre este carro vermelho,
Pensava em quanto
Os tortos sinais de lá
Não indicam caminho algum,
Já que o amarelo apenas
Chamava a atenção
De tais donos,
Em sua egoísta nobreza
Acho que a estrada
Ainda corre sobre nossos
Veículos,
E as formas de expressão
Possíveis
São aquelas mais inverossímeis

Não acredito em amarelo,
Nem em minhas canetas


O coreto quebrado do Senhor Duque

E desisto

Abdico de minha
Crença
Em tudo o que
Escrevíamos antes
Pois,
Meu caro senhor,
Agia como
Um charlatão
Que pouco conhece
As cartas
Salvas,
Em sua mão,
Profetizando palavras
De um futuro
Próximo

Distante

Qualquer,
Sem grande emoção

Asfixio-me numa
Não-emoção
Que nos torna
Herói ou
Vilão
Por pouca visão
Apenas uma questão de
Visão




Can even see sweet Marianne...

terça-feira, 10 de maio de 2011

E sobre o dia 10 de maio de 2011...

Acordei super tarde, porque fiquei até bem depois da meia noite conversando com meu namorado. Como se não fosse habitual, rs, hoje nós completamos 4 meses de namoro, e o dia vem sendo extremamente gentil comigo. Se o amor dele não for motivo suficiente para vocês, leitores, o céu andou mostrando um pouquinho de azul depois de dias chuvosos e a Lady Gaga lançou uma música brega, oitentista, trabalhada no romantismo e com todas as promessas típicas de um começo de relacionamento... Coisas que eu AMO, pra variar... kkkkkkkk



"Cheguei ao Limite da Glória, e me seguro a um momento repleto de Verdade... Cheguei ao Limite da Glória, e me seguro a este momento, com você"

Olha, pode morrer?! Este post daqui é só uma forma de dizer o quanto eu amo você, Rodrigo, e que meu maior desejo é que essa sensação de juventude em estar a seu lado permaneça conosco, durante o tempo de nossa vida. Como diria a sábia Mary Copeland Amos, mamãe de Tori, o problema não está em ter um corpo velho, mas sim em ter uma alma velha. Então, isso valendo para todos nós, quando o corpo estiver velho e opaco, próprio do ocaso, que a alma continue brilhando como se fosse a manhã mais bela, do mais belo sol.

Parabéns pra nós, meu anjo!




(fonte da imagem: tumblr)

domingo, 8 de maio de 2011

"Mãe e filha"

Queridas e queridos, este texto é bem antigo, e foi escrito pensando nas duas mulheres mais lindas desse mundo: minha irmã e minha mãe. Na verdade, ele é dedicado mais à primeira, só que parte de sua essência tenta representar a doçura daquela que vive brigando comigo, mas que me ama como ninguém nesse mundo. Desejo a todos as mães e seus filhos hoje que lembrem de uns versinhos bem simples, mas muito sábios, da Legião Urbana: "Sou uma gota d'água, sou um grão de areia... Você me diz que seus pais não te entendem, mas você não entende seus pais... Você culpa seus pais por tudo, isso é absurdo! São crianças como você... O que você vai ser quando você crescer?"

Mãe e Filha

Há uma dama que me visita, às vezes. Sempre quando a vejo em minha porta, tenho vontade de sufocá-la num único abraço, e ela, por toda sua educada doçura, beija meus olhos e diz que voltará assim que eu estiver mais calmo...

Gosto muito de recebê-la em minha porta! E gosto mais ainda de sentir que, quando me olha nos olhos, ela passa a ser parte de mim, coisa de nostalgia.

Quem primeiro me falou dela foi minha filha, a garota que um dia foi de encontro ao vento e trouxe pétalas, para mim, numa brisa. Só para alegrar minha vida, para que finalmente aprendesse o nome desta dama que, às vezes, me visita, e, em alguns minutos, toma um trem e dá a partida... Por um adeus que a fazia querida, e um olá que a tornava ainda mais bonita!

Do jeito mais
Puro e livre,
Era essa
A dama
Mais bonita



És a mais bonita... Mainha.

"I can remember where I come from..."

sábado, 7 de maio de 2011

"Marianne", por Tori Amos

And they said Marianne killed herself, and I said, "Not A Chance".



Having thoughts of Marianne...

"Monogamia"

Pela reintegração do espírito repartido. E, antes de qualquer coisa, pela crença sincera de que isso é possível.

Monogamia

Começarei um caso de amor,
Sem rosas ou extremos à vista
Encontrarei minha outra parte,
Ela será a conquista
Vou buscá-la lá dentro,
Onde se escondem os monstros
Os monstros que a oprimem,
Com o terror de seus roncos
Atrás estou desta parte,
Desta, que agora me falta
Para com ela ser todo,
Tudo que agora me falta
Pois se me sinto sozinho,
Estou com as portas fechadas

Abrindo-as,
Talvez, quem sabe,
Eu encontre minha alma

Sim, esta parte dela
A que agora,
Só agora,
Me falta



"We can work this out! I believe, although it seems impossible now... Oh without a doubt, We'll work this out!"

Tardes cinzas...

Tardes cinzas me deprimem. Na verdade, essa desculpa era a melhor que tinha quando sentia o quanto estava desperdiçando minha vida. É nesses momentos que você percebe o quanto deposita sobre determinados pontos quase tudo que é você, mas esquece de ver que sua vida vai bem além, é feita de muito mais coisa. Enquanto você não percebe de verdade tudo isso, suas tardes continuam cinzas, porque assim você as pinta.

Por mais que chova lá fora, quando chove por dentro é que a vida perde sua destra e anda por aí, perdida.

Daí, as tardes, as manhãs, e até as noites mais escuras tornam-se cinzas. E nada gira; nada parece mudar em sua vida. Uma das coisas, porém, mais sábias que já ouvi é que se você não toma as rédeas de suas mudanças, o mundo trata de fazê-las por você. E você muda. Como diz a Aimee Mann numa das músicas que mais gosto dela, you really do. Mas eu não quero que este texto seja uma lição de moral... Só um retrato de um estado estacionário do qual não tenho motivação para sair. Querendo que alguém mais venha me tirar daqui, ainda que saiba que só meus pés podem fazer isso por mim.

Pois por mais que chova lá fora, quando chove por dentro é que a vida perde sua destra e anda por aí...

Perdida, por aí.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

"Predisposição"

Ao quê? Predisposição ao quê? Houve momentos em que essa palavra me assombrava de um jeito muito negativo, como se "estar predisposto" fosse "estar predisposto a cometer uma insanidade". Não falo de me matar, mas de não me importar. De esquecer quem me ama e, simplesmente, deixar para lá. A questão é que por mais predisposto que você esteja a fugir de seus problemas, eles vão lhe buscar... E você aprende que não haverá sexualidade libertina que lhe faça esquecer da falta de um lar. Foi isso que aprendi durante aqueles dias, sem lar.


Predisposição

Sinto que você
Cimentou
Sua dor
Em algum cômodo
De nosso lar,
E isto me sufoca
Ainda mais
Quando percebo que
As gavetas de meu
Quarto
Estavam vazias
Falávamos e falávamos
Sem pensar na
Gravidade de nossas
Palavras
Pois,
Naqueles dias,
Tínhamos o direito
De ser qualquer coisa,
Menos uma família
Feliz

Não sei o que nos é próprio
Desconhecendo tudo
O que era meu,
Até aqui
E sinto esta dor,
Cimentada em algum
Cômodo
Nesta casa
Esta pobre casa de tolerância,
Que não se importaria
Em observar
O fogo de minha
Sexualidade
Libertina

Libertina


quarta-feira, 4 de maio de 2011

As luzes de São Paulo e o calor de Manaus...

Nesses dois últimos meses, fiz duas viagens que foram muito marcantes para meu ano de 2011. Fui em março a São Paulo, para assistir ao show da Shakira, de quem sou fã desde a época em que ela cantava Estoy Aquí no Faustão, rs, e depois, em Abril, fui a Manaus para finalmente conhecer meu namorado ^^. Pois bem, percebi o quanto pego afeição a esses mundos, ainda que mantenha meu amor por Recife, e cada uma deles me deu um texto distinto.
"As luzes de São Paulo" foi uma expressão que surgiu de um diálogo que tive com um amigo, Moacir. Eles estava conversando comigo, um dia antes do show, e quando abri as cortinas no meu quarto, ele comentou: "o seu quarto é muito mais iluminado pela rua que o meu, lá é um breu!"; eu me viro para ele e digo: "é, amigo, são as luzes de São Paulo!". Nasceu a expressão que dois dias depois viraria um texto, tentando captar a doce saudade que senti de lá, ao voltar para casa.
Já "O Calor de Manaus", é até redudante falar... TODO MUNDO me dizia que a cidade é quente demais, sensação térmica acima dos 40º, e por aí vai. Não cheguei a pegar essa temperatura toda, ainda que o suor me contrarie, mas esse texto trata de outro calor que senti por lá... Leiam.


As luzes de São Paulo

As luzes de São Paulo
Vêm de todo lugar
Japão, Curitiba, Trindade,
Meu lar

São carros, são prédios
Que eu só vi lá
São gente que lembra
Da gente de cá

Andei por suas ruas,
Pisei com cuidado
Senti um respeito
Pelo céu cansado

Do sol que não queima
Da chuva que cai
Garoa que leva...
Lembrança que traz

E agora vou indo,
Num voo enfadado
Saudades já tenho,
Das luzes, São Paulo


O calor de Manaus

E desde muito cedo me falaram sem segredo
Para aguentar o calor abafado de
Manaus

Disseram-me ser tão quente que até ferro
Candente consegue ser mais suave que este
Sol anormal

Pensei, então, que ao chegar meu corpo
Iria fritar como de uma frigideira pra lá
Dos 60 graus

Mas qual não foi minha surpresa quando,
Por toda beleza, foi puro calor humano,
Do tipo que não faz mal!

Pois sim, agora agradeço a todos que me
Fizeram estar bem perto de casa, mesmo
Com a distância

Desde o amor que esperava, até a amizade
Mais calma, tudo me fez recobrar o sentido
Da esperança

Pois sim, estou mais tranquilo, achando
Maniqueísmo afirmar que daquele mundo
Não sai nada legal

É quente, eu admito, mas sei bem o que digo
Quando solícito afirmo, “Eu amo
O calor de Manaus”!

terça-feira, 3 de maio de 2011

"Sinceros Desejos"

Levitaremos sobre nosso peso, quando pagarmos o preço derradeiro.

Sinceros Desejos

E o que mais
Poderia falar sobre
Mim?
Como poderia
Lhe expor
Outras flores residuais,
Ou teciduais,
Sem me sentir
Distante destes
Passos,
Sem impor a você
Minha mais
Nova
Personalidade?

São as emoções
Que trago a mim
Diariamente...
Algumas tábuas
De carne para
Amaciar minhas
Têmporas,
E fazê-las suaves,
Ao toque dos mais
Risonhos parentes
Alguma incerteza
Ao falar sobre coisas
Tão oscilantes,
Ou uma maneira de
Fazê-lo perder
Seu tempo,
Apenas por
Mais uma aprovação
Inútil

Pois nós todos
vamos
À palidez...
Todos seremos
Bons mágicos, um dia
Em nome de algum
Velho desejo,
Ou de perder peso
Ó,
Inútil alegria

domingo, 1 de maio de 2011

Filosofando sob(re) luzes amarelas...

Queridas e queridos, fiz uma viagem ótima por esses dias, que me preencheu novamente com essa dita esperança, e isso fez com que eu interrompesse por alguns dias as postagens... Dessa vez, porém, vou retomar o tema do blog, minhas experiências, a partir do momento em que, digamos, eu conheci a morte.
Ao chegar no hospital, meu pai me dá a notícia. Estava com umas cinco pessoas que vieram comigo de Recife, e por todos os lados, era desespero. Painho, como o chamo, disse ter visto uma luz, como um raio, instantes antes de nós chegarmos... E de algum modo, ele sabia o que ela representava. Esses dois textos foram escritos dias depois do que nos aconteceu, mas tentaram captar um pouco daqueles primeiros momentos. Vocês vão entrar agora no reino das metáforas confusas, já que foi uma época em que, tentando ser rebuscado, eu escrevia coisas um pouco sem sentido... No entanto, o caráter emocional delas existe, e se quiserem perguntar, estou postando para conversar.
"Filosofias de um casal" é sobre meus pais... "Sob as luzes amarelas acesas", sobre mim.
Por enquanto, é isso.


Filosofias de um casal

E me dê
Mais 5 minutos
Para que
Perceba o
Que houve de
Errado em
Você
A razão pela
Qual estamos
Condenados
À morte
Ou porque esta
Sutil senhora
Nos é tão
Condenativa

Sinto muito,
Sim,
Sinto muito
Pelo amor que
Nos fazia
De refúgio
Pelas baleias
Que fugiram
Deste aquário
Ou pela luz
A luz que
O senhor duque
Viu com suas
Novas tendências
Apenas observações
Outras observações em
5 minutos.


Sobre as luzes amarelas acesas

E sobre suas contas,
Escrevo meu último documento
Sobre nossas alegrias,
Escrevo meu epitáfio em
Tom de lamento
Havia flores secas neste
Jazigo
E não sei se ficamos
Entregues a isso
Por sua rispidez,
Ou pelo doce detalhismo
Que salvava
E estragava
Cada dia
De nossas finitas
Vidas
Pois quando acreditava
No infinito,
Um buraco negro nos
Sugou
E contraiu
Um pouco mais
Este universo
Tudo porque
Assinei um último
Documento,
E você começou a falar
Sobre pequenas freiras,
Neste exato momento.

***

quinta-feira, 28 de abril de 2011

O lobo e a lua

Lobos amam uivar à lua, e a admiração que têm a ela é estranha, já que ela lhes é inalcançável, por imperar prateada e solitária num céu tão distante. É um ofício que parece sem sentido, e, talvez por curiosidade em compreendê-los, permiti que um deles se tornasse meu amigo, e aos pouquinhos, a fome em devorar típica dele foi me consumindo, até eu perceber que já era tarde demais... Eu não poderia voltar atrás.
Esse lobo fez de mim sua lua, a mais bela lua, orbitando distante de sua terra, mas dotada de uma beleza que o faria jamais tirar os olhos de cima. E eu percebi um dos traços que é próprio dos lobos: a capacidade de acreditar. Acreditar que a lua distante pode ouvi-los, quando por todo o amor, eles cantam e chamam, chamam pelo ser mais querido...
Eu, que havia virado a lua distante, tive medo de descer à terra para apreciar as cores prateadas na pelagem desse lobo. E talvez por isso, me senti traído quando todas as expectativas lunáticas esvaeceram-se nas nuvens... Na verdade, ser a lua por uns instantes fez de mim a vaidade, e quando ela é ferida, todo o traço de verdade se faz em mentira. Era eu acreditando em minhas mentiras, e afastando meu lupino, o companheiro da minha vida.
Foi então necessário que a lua descesse a terra e se tornasse não menos que um ser humano. Foi preciso que eu deixasse para trás o orgulho de estar acima do chão para admitir que esse lobo ainda me admirava, só que tinha sua matilha para cuidar também. Tudo ficou claro no momento em que nos vemos pela primeira vez. E nos abraçamos. E nos beijamos... E nos amamos como se nossa cama fosse de nuvens, e minha órbita tivesse sido devolvida a mim. A única diferença é que o êxtase do amor não foi solitário. Meu lobo estava comigo, e só isso foi o suficiente para que entendesse o quanto ser uma lua solitária não era um destino digno.
No fim, meu lobo me devorou e fez de mim o homem mais bonito.

Foi isso que tenho ouvido desde que voltei ao meu mundinho... Desde que ele uivou em meus ouvidos, eu tenho sido o homem mais bonito.

---

Te amo, Rodrigo.

sexta-feira, 15 de abril de 2011

"Sobre Morrer"

Queridas e queridos... Desde o primeiro texto procuro deixar claro que quero dividir experiências minhas com vocês. E em definitivo, a maior experiência pela qual eu passei foi a perda de minha irmã, tão jovem. A partir deste post, irei entrar nesse mérito, ainda que tente não me deter 100% nele. Este é um post introdutório, então vamos lá!


Sobre Morrer

E então, a realidade me acorda. Não me recordo se algum dia cogitei morrer, mas definitivamente o fim ainda não era uma opção. Foi de noite que aprendi que morrer, no entanto, não é opção nossa. É “sim” ou “sim”, simples assim.
Recebo a ligação de que ela havia sofrido uma parada cardíaca. O sono e a impossibilidade sobre minha vista fizeram com que entrasse num carro e seguisse durante mais de uma hora até chegar naquele hospital cansado, de madrugada. É foi ele quem me recebeu, meu pai, dizendo que o céu chegou pra ela... E o inferno, na forma de um espírito seco e de pessoas flageladas por todos os lados, esse inferno chegou para mim. Isso é pessoal... Nos espaços que adentramos, cada um sabe de si.

É por isso que representam o inferno como puro fogo, pares de chamas, labaredas macabras. Porque nele não existe água. Água da vida, talvez... Antes de tudo, porém, era água que faltava. E assim estavam minha saliva, meus olhos, minha urina avermelhada... De mim, faltava e não saía água.

Mas e o corpo da minha irmã... Não sentia mais ela lá. Engraçado o que C.S. Lewis disse, mais ou menos isso: “somos uma alma dotada de um corpo, não um corpo dotado de alma”. Isto me fazia total sentido, porque ela não estava mais lá. Se não existir de fato um elemento eterno dentro de nós, que por mais eterno que seja acaba por se desfazer como éter no ar, ela não existia mais. Aquele corpo indolor era estranho... E não conseguia entender ainda toda a necessidade de sepultá-lo e cerimoniá-lo. Mas minha ignorância, em relação aos necessitados, não permaneceu. Eles precisavam disso... Assim, precisei eu.
E depois de tudo, passou-se uma semana sem música. Depois de assinar documentos, acordar e dormir num tormento, esquecer de meu tempo, foi-se uma semana sem vontade de ouvir qualquer canção. Acho que a primeira coisa que consegui pôr no som foi Sleeps With Butterflies, para forjar minha vontade de ser gente. Aos poucos, voltei a escutar. E as palavras que precisavam nascer, mesmo que desordenadas, as palavras voltaram a nascer.
E o tempo mostrou-me que precisavam de um pai para lhes orientar, lhes polir. Então eu fui. Nas palavras eu fui mãe e pai de mim. Meus pais eram só deles agora... Tive de ser de mim.
Foi dessa forma que vivi.
E de algum modo, prossigo vivendo assim.
Pois eu sobrevivi.
À morte de toda uma sorte, eu sobrevivi.
E morri.

Também, eu morri.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

#EUSOUGAY

Queridas e queridos, peguei esta mensagem com Felipe Werly, amigo meu, e ela incita uma campanha em favor do fim de crimes de ódio ocorridos em nosso país, por causa da homofobia. Na verdade, o texto é auto-explicativo, então peço que, por favor, vocês leiam:


Sejamos Gays. Juntos.
abril 12, 2011
Adriele Camacho de Almeida, 16 anos, foi encontrada morta na pequena cidade de Tarumã, Goiás, no último dia 6. O fazendeiro Cláudio Roberto de Assis, 36 anos, e seus dois filhos, um de 17 e outro de 13 anos, estão detidos e são acusados do assassinato. Segundo o delegado, o crime é de homofobia. Adriele era namorada da filha do fazendeiro que nunca admitiu o relacionamento das duas. E ainda que essa suspeita não se prove verdade, é preciso dizer algo.

Eu conhecia Adriele Camacho de Almeida. E você conhecia também. Porque Adriele somos nós. Assim, com sua morte, morremos um pouco. A menina que aos 16 anos foi, segundo testemunhas, ameaçada de morte e assassinada por namorar uma outra menina, é aquela carta de amor que você teve vergonha de entregar, é o sorriso discreto que veio depois daquele olhar cruzado, é o telefonema que não queríamos desligar. É cada vez mais difícil acreditar, mas tudo indica que Adriele foi vítima de um crime de ódio porque, vulnerável como todos nós, estava amando.

Sem conseguir entender mais nada depois de uma semana de “Bolsonaros”, me perguntei o que era possível ser feito. O que, se Adriele e tantos outros já morreram? Sim, porque estamos falando de um país que acaba de registrar um aumento de mais de 30% em assassinatos de homossexuais, entre gays, lésbicas e travestis.

E me ocorreu que, nessa ideia de que também morremos um pouco quando os nossos se vão, todos, eu, você, pais, filhos e amigos podemos e devemos ser gays. Porque a afirmação de ser gay já deixou de ser uma questão de orientação sexual.

Ser gay é uma questão de posicionamento e atitude diante desse mundo tão miseravelmente cheio de raiva.

Ser gay é ter o seu direito negado. É ser interrompido. Quantos de nós não nos reconhecemos assim?

Quero então compartilhar essa ideia com todos.

Sejamos gays.

Independente de idade, sexo, cor, religião e, sobretudo, independente de orientação sexual, é hora de passar a seguinte mensagem pra fora da janela: #EUSOUGAY

Para que sejamos vistos e ouvidos é simples:

1) Basta que cada um de vocês, sozinhos ou acompanhados da família, namorado, namorada, marido, mulher, amigo, amiga, presidente, presidenta, tirem uma foto com um cartaz, folha, post-it, o que for mais conveniente, com a seguinte mensagem estampada: #EUSOUGAY

2) Enviar essa foto para o mail projetoeusougay@gmail.com

3) E só

Todas essas imagens serão usadas em uma vídeo-montagem será divulgada pelo You Tube e, se tudo der certo, por festivais, fóruns, palestras, mesas-redondas e no monitor de várias pessoas que tomam a todos nós que amamos por seres invisíveis.

A edição desse vídeo será feita pelo Daniel Ribeiro, diretor de curtas que, além de lindos de morrer, são super premiados: Café com Leite e Eu Não Quero Voltar Sozinho.

Quanto à minha pessoa, me chamo Carol Almeida, sou jornalista e espero por um mundo melhor, sempre.

As fotos podem ser enviadas até o dia 1º de maio.

Como diria uma canção de ninar da banda Belle & Sebastian: ”Faça algo bonito enquanto você pode. Não adormeça.” Não vamos adormecer. Vamos acordar. Acordar Adriele.

— Convido a todos os blogueiros de plantão a dar um Ctrl C + Ctrl V neste texto e saírem replicando essa iniciativa —

segunda-feira, 11 de abril de 2011

"Imagens do Multiverso"

Tenho ouvido muito nesses últimos tempos a cantora Florence Welch, artisticamente conhecida por sua banda, Florence + The Machine! Costumo definir seu estilo como Pop Cósmico, já que ela sempre me faz sentir numa órbita, observando com uma falsa paciência as estruturas que orbitam, a meu lado. E nesse clima espacial, rs, acabei incitando o que chamei de "Imagens do Multiverso", uma poesia de amor. A música que a inspirou está logo abaixo, e tem o singelo título de "Estranheza e Encanto"... Pode ficar melhor? Sim! Ouça...


Imagens do Multiverso

E vou até as estrelas
Para buscar seu presente
Serei doce
Serei amargo
Serei tudo
Que lhe cura,
Ó,
Planeta doente

Vou até as estrelas
Para encontrar nelas
O que você roubou de mim
Você roubou,
Pôs em seus olhos,
E por causa disso
Que só consigo viver
Quando eles me olham
Dizendo que ali
Há algo daqui...
O que perdi,
Você roubou de mim

Então venha comigo
Até perto desses astros,
E lá farei uma cama
Para nosso amor
Ela será
Nosso quarto,
E emendarei cometas
E supernovas
A uns poucos rastros de poeira,
Para tecer sua toga,
Caminhos,
Seus passos

Você será bonito
Eu serei bonito
Seremos divinos
Perante o brilho
Dessas estrelas,
Queimando todos os vícios
E fazendo da virtude
Rainha,
Como se este fosse
Nosso mais preciso
Suplício

Eu estarei com você
E as estrelas serão
O início
O início de nosso fim,
Nosso desejo,
Nosso amor orbitando
No escuro mais vivo...

Flutuaremos no infinito

Infinito



Feel it on me, love! Feel it on me, love! Feel it on me, love... Strangeness and Charm!

sábado, 9 de abril de 2011

Para meus amigos

E hoje eu tive uma conversa daquelas que só tenho com amigos bem próximos... Essas que começam com um "menino, preciso desabafar", e terminam com "mas virtudes são contrapontuais aos vícios, um só existe em função do outro", and so on... Na verdade, experiências corriqueiras com aqueles que mais amo e respeito nesse mundo SEMPRE viram coisas imensas, ainda que imensa seja somente a bobagem que formulamos juntos. A questão é estarmos juntos. Amigo é pressas coisas, todo mundo sabe disso.
E por mais que vocês digam que os seus são os melhores do mundo, eu afirmo com veemência que os meus sambam na cara de qualquer um... Porque eles são pessoas incríveis, porque eles me ouvem, porque eu os ouço, e até a mais dura crítica consegue se tornar bálsamo com mais alguns minutos de conversa. Porque eles me salvam todos os dias, e porque eu sinto salvá-los também, e de alguma forma, tê-los comigo é a razão mais concreta para que creia: eu tenho meu lugar, nesse lugar.
E a cada um de vocês, meus anjos, meus lindos, minhas senhoras e senhores mais bonitos... Eu não saberia ser feliz comigo se não aprendesse a ser feliz contigo. Por vocês, eu sou caído, caído ;).


E esse vídeo eu dedico à Bela e à Karoinha, que AMAM essa música! kkkkkkkkkkk

Friendship never ends...

"Lençol de cama" e "Dia de Sol"

Durante esses dias, passei por alguns estresses no meu instável mundo emocional, e se fosse para postar algo há dois dias atrás, não teria vindo de um lugar bom... Esses textos serão publicados no futuro, mas por enquanto prefiro a amenidade e doçura, duas sensações que estão comigo desde ontem e me fizeram ir ao trabalho sorridente, numa manhã de sábado depois de ter dormido pouco mais de 3 horinhas... Daí que pus Between 2 Lungs da linda Florence e sua máquina, enquanto posto pra vocês duas pequenas pérolas, que me acertam por serem simples e tirarem seu valor justo disso.
O primeiro, "Lençol de cama", é uma brincadeira com flores; o segundo, "Dia de Sol", trata de um dia de 2007 quando descobri o amor à primeira vista! Deixei que fosse embora, porque pensei demais e não deu tempo de alcançá-lo quando corri... Por mais que tenha ficado chateado no dia, só a sensação de queimar por dentro valeu pra mim.
Vamos?


Lençol de cama

Forrei minha
Cama com muitas flores
Fiz um travesseiro
De lírios, copos-de-leite
E magnólias
Cobri-me com rosas
Azuis,
E dormi

Sonhei com meus pássaros
E acordei rodeado de sementes
As flores,
Então,
Acariciaram-me e
Devem ter-me
Feito pegar no
Sono,
Novamente

Pois elas,
Minha boa e velha
Afrodite,
Deram-me forças
Para descansar
Guardar um pouco minha
Impaciência e,
Apenas,
Descansar


Dia de sol

Sexta-feira
30 de março
9 horas
Você me perguntou para onde ir
E meu mundo encheu-se de cores
Você riu ao ver
Que não sabia como chegar
E percebi que nunca meu mundo
Esteve tão cheio de cores antes

Sexta-feira
30 de março
9 horas e 3 minutos
Você encontrou seu caminho
Porém antes,
Entregou-me a sua melhor
Aquarela
Pintei meu mundo de vermelho
Para você ficar cego
E me olhar
Me olhar e seguir
Até outro lugar


Do for love, like you can do nothing else no more...
(Sabrina Starke)

terça-feira, 5 de abril de 2011

"E as canetas"

Desde o começo, a relação que desenvolvi com cores era muito forte, a ponto de escrever textos de personalidades distintas com canetas de cores diferentes! Este texto fala sobre parte do que é meu processo criativo, e ele passou por uma evolução contínua até chegar na forma em que está... Então, em mim vocês vão acreditar?


E as canetas

Costumo escrever com tinta azul
E também escrevo com o vermelho
Mas ele me disse, uma vez
“Sou volúvel, pare de me usar”

Gosto de meus textos vermelhos
Talvez pela intensidade deles,
Que os torna velozes,
Fugazes,
A ponto de fugirem de minhas mãos
E levarem um pouco de mim
O suficiente para que não
Saiba aonde foram parar
E sigo os perdendo,
Assim

Às vezes,
Porém,
Concordo em usar o azul
Talvez seja minha melhor face
E a adoração que tenho por sua
Cor
Eu aprendi com meus pais

Amar o azul implica em tantas coisas,
Que nem sei dizer
Posso pelo menos afirmar
Que acabei de usá-lo,
E,
Em sua sobriedade,
Imagino que,
Em mim,
Você iria crer

Mas só imagino,
E agora,
Lanço-me ao risco de perguntar

Você realmente acreditaria em mim,
E nas cores que tenho a lhe oferecer?
Foram feitas para você ver,
Ou esquecer,
Esquecer?

segunda-feira, 4 de abril de 2011

"O alcance da promessa"

A responsabilidade que temos em lidar com o restante do mundo pode parecer tão grande, mas tão grande, que chega a comprimir nossos corações. E dá medo, muito medo imaginar o quanto você precisa compreender pra que um sorriso seja simplesmente sincero... Um sorriso sincero.
Deparo-me com alguém que está disposto a largar um mundo inteiro para que eu me torne cada vez mais tangível a ele. Alguém que, com palavras, nunca me prometeu amor eterno, mas que fez isso com gestos, uma gentileza tão afável que me fez repensar todas as coisas que eu tinha para mim. Fez com que meu lar mudasse de lugar, e a aflição que a distância traz tornou minha vida cada vez mais real... Mais sincera.
Vejo diante de mim a perspectiva de um futuro brilhante, e, sim, isso me dá medo. Medo de que o tempo leve tudo de nós, leve-me dele ou o contrário, ensinando-me do jeito mais duro que o transe é uma transição... São palavras tão parecidas, chega a ser óbvio associá-las.
Tenho medo de assumir tanto riscos, mas, ao mesmo tempo, coragem suficiente para peitá-los de frente. Para mim, a coragem vem um pouco da própria inconsequência, e isso faz com que minha condição seja uma típica antítese: serei responsável por nós dois, e inconsequente, por nós dois.
Seremos responsáveis por nós dois, seremos inconsequentes por nós dois.


É esse o alcance da promessa... Já tomou todos os meus espaços...
O alcance da promessa.

04/04/11



"Quando eu olhar pro lado, eu quero estar cercado só de quem me interessa."

domingo, 3 de abril de 2011

"You're Just So Pretty"

Uma das minhas cantoras prediletas, que acabou se tornando uma imensa influência, é a Tori Amos. Na verdade, boa parte das pessoas que me conhecem sabem de como sou devoto a ela, e aquelas que já leram algo escrito por mim entendem como ela é importante também nesse sentido. De fato, escrever às vezes exige ambientação, especialmente se ter concentração é um problema! E a música é, sem dúvida alguma, um bom meio de se chegar até o reino das palavras... Metaforicamente, a música é uma cavalo que, galopando ou correndo, faz com que você chegue aonde precisa chegar; e mesmo não sendo Horses a que inspirou essa daqui, a que me ajudou a contar "you're just so pretty" chama-se Putting the damage on (de fato, o título e o texto tem relação direta a um verso da canção).
Putting the damage on, para mim, representa o quanto existe de beleza nas coisas do mundo, ainda que tenham sido devastadas e, assim, tenham "vestido os danos". Foi essa a comoção que senti ao ter de passar pela experiência de, após dois anos, retirar os grosseiramente chamados "restos mortais" de onde vocês sabem que removi. Em primeiro lugar, foi necessário que pensasse fortemente que aqueles ossos eram somente uma parte dela. Assim, havia uma beleza preservada, uma beleza que tempo nenhum poderia roubar. E é por isso que ela continua bonita. É por isso que essa estrela não deixou de brilhar.

“You’re just so pretty”

E você continua bonito
Continua bonito porque você me dá assim
Porque eu me entendo assim
E você continua bonito
Pois no mundo não haveria palavras
Ou sentimentos
Pra expressar o quanto você é
Bonito
E as minhas são obsoletas diante da
Estrela
A estrela que brilha, brilha e brilha
Até que me perca
E me encontre em você,
Pois continua bonito,
Afinal

Daí me pergunto,
Quem é a estrela?


sábado, 2 de abril de 2011

"19 anos" e "Instabilidade"

19 anos. A idade com que comecei a escrevê-los de verdade. Hoje tenho 23 anos, e sinto como se alguns deles continuassem tão perto, e outros nem tanto. Esses serão os primeiros. Os que têm um caráter mais juvenil e bobo, até, já que mostravam de alguma forma o quanto é preciso amadurecer. Mas os primeiros costumam ser assim... É inevitável, precisam crescer...


19 anos

Há 2 séculos atrás,
Me guardei no meio destas
Palavras
Queria apenas o provável
Ouvia sobre sonhos possíveis
E mais um século se passou
Liguei para Deus
E o questionei
Sobre minha capacidade de
Pintar o horizonte de vermelho
Ele me falava sobre as mesmas
Velhas coisas
E decidi seguir de mãos dadas
Ao meu relato,
Secreto e azul


Azul


Instabilidade

E juro,
Não ficarei
Vermelho
Ao falarmos
De sexo
“Você?”
Você talvez

Porque tudo parte do recomeço...

Desde 2006, mais ou menos, comecei a escrever sobre minha realidade, meus sentimentos, e saía falando um monte de bobagem até me deparar com poucas coisas interessantes. Tinha minhas tristezas, ou melhor, minha tristeza, mas ela era meio que sem fundamento, até eu ter passado em 2007 pelo evento mais grave da minha vida: a perda de minha irmã, numa madrugada de terça-feira.

Desde então, escrever, que era mais uma vaidade ingênua da minha cabeça, passou a ser sinônimo de sobrevivência. Escrevia para me acalmar, para descontar minhas raivas, para compreender melhor a minha ignorância. A partir daí, fui sentindo o quanto mudei com os textos e o quanto eles mudaram, comigo.

Esse blog é uma experiência que proponho a vocês: entrem na minha história, conheçam meus sentimentos e, se isso sair como esperado, retirem deles algo para vocês. Por mais egocêntrica que seja a proposta (o blog leva meu nome, rs), uma coisa eu lhes digo: há muito a se aprender das histórias que outros tem a dizer. E eu serei o outro, tentando ao máximo enternecer você.

Todos os textos que publico aqui são registrados na Biblioteca Nacional, e peço que se vocês gostarem deles a ponto de quererem espalhá-los por aí (eu sei, mais um pensamento egótico), por favor, referenciem a fonte, ok?


Então...

Prontos para recomeçar?